Visitamos a Anuga Select Brazil, a mega feira que reuniu 500 marcas expositoras com as novidades do setor de alimentos e bebidas para mais de 15 mil visitantes

Entre os dias 09 e 11 de abril aconteceu no Distrito Anhembi, em São Paulo, a quinta edição da Anuga Select Brazil, considerada uma das maiores feiras de alimentos e bebidas das Américas. Durante os três dias de evento, os visitantes puderam conhecer as novidades no setor, participar de experiências gastronômicas, fazer networking e expandir negócios.

Foram 500 marcas expositoras de 10 setores da indústria de A&B do mercado participando da feira, entre fabricantes de alimentos e bebidas, importadores, exportadores e distribuidores, além de equipamentos e serviços para o segmento de food service.

A feira é um imenso canal gerador de negócios, pois oferece uma vitrine de lançamentos e apresentação de portfólio de produtos nacionais e internacionais voltados para o varejo, rede food service, alimentação fora do lar e hotelaria. Uma excelente oportunidade também para avaliar novos fornecedores e produtos, participar de degustações, assistir apresentações de especialistas e conhecer as grandes tendências mundiais em alimentos e bebidas para expandir e aumentar a competitividade dos negócios.

Tanto que a Anuga atraiu mais de 15 mil visitantes vindos de todo o Brasil e de 25 países como Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Bolívia, Canadá, Chile, China, Colômbia, Equador, Estados Unidos, Paraguai, Peru, Uruguai, entre outros.

O Portal Mesa de Bar esteve presente na Anuga 2024 e descreve a seguir um resumo do que conseguiu constatar, uma vez que é impossível visitar todos os estandes e degustar uma imensidão de produtos disponíveis. É claro que concentramos nossa visita no universo das bebidas. Vamos lá:

Começamos visitando o estande da Argentina. Surpreendentemente haviam alguns produtores de gin, de olho no nosso interesse pelo destilado. Conhecemos o Tolski e o Floreo, produtos bem atraentes ainda não disponíveis por aqui. Continuando, chegamos ao estande da Uvino que trabalha entre outros com vinhos do Uruguai, que tem despontado no cenário da viticultura sul-americana. Lá provamos o vinho El Ceibo, produzido em El Carmen, no departamento de Durazno, no centro do Uruguai, pelo enólogo francês Jean Pierre Bouillac. Um excelente blend de tannat 60%, arinarnoa 20% e Marselan 20%.

No estande da Embrapa, paramos para saber das novidades da lorena, uma variedade de uva branca desenvolvida em 1986 do cruzamento da malvasia bianca X seyal especialmente para a fabricação de vinhos de mesa e espumantes, mas que deu tão certo que está sendo usada para a elaboração de vinhos finos, como por exemplo o ótimo Tempos de Góes Trópicos Lorena Seco, da vinícola Góes, de Vinhedo (SP). Provamos o rótulo Lorena Ativa, da Adega Chesini, de Farroupilha (RS), que está muito bom, refrescante e leve, o que prova que a lorena vai longe…

No estande dos EUA foi interessante ver que o país está apostando mesmo no cramberry para a indústria de bebidas. A fruta ícone norte-americana já se faz presente em sucos, destilados e até na cerveja, como pudemos comprovar em uma degustação recente. Mas ela pode ter mais usos. O único impedimento é que a fruta precisa ser importada já processada sob forma de extrato natural.

Por falar em sucos, no estande do Peru conhecemos a Bio Amayu é uma marca do Grupo AJE, que produz sucos de frutas da amazônia peruana. Tem até de açaí! Provamos o suco de camu camu, que no Brasil é conhecido como caçari, araçá d’água ou sarão, adoçado com suco de maçã. Ele ajuda a hidratar, matar a sede e fortalecer o sistema imunológico, segundo o fabricante. No mesmo estande havia uma outra linha de sucos, a Bio, também com frutas amazônicas, camu camu, arandano (mirtilo) e aguaje (buriti). Boa ideia…

Passamos para o estande da Alemanha para conhecer uma ótima surpresa: a aguardente Schladerer! Quem disse que alemão só bebe cerveja se enganou… A família Schladerer produz famosas aguardentes de frutas em Staufen, nas cercanias da floresta negra. Talvez por isso ela caprichou nas versões com cereja (do gargalo vermelho) e framboesa (do gargalo cinza). E, claro, conhecemos três linhas de cervejas. A linha da Schlenkerla de cervejas é tradicionalíssima. As do tipo “rauchbier” (marzen e weizen), produzidas a partir de malte defumado, são fabricadas desde 1678 na cidade de Bamberg, na Baviera. E vimos ainda uma heller e uma doppel bock… Mas não conseguimos provar… pena!

O mesmo aconteceu com as Scheneider Weisse, outra cervejaria tradicional da Baviera, criada em 1872 na cidade de Munique, que trouxe uma original, uma weizen e até uma sem álcool… Tinham outras boas coisas no estande alemão, como as König Pilsner – uma das referências mundiais no estilo german pilsener – e a König Pilsner Grapefruit; uma weissbier da Benediktiner e uma schwarzbier da Köstritzer. Também não conseguimos provar…

Mas o delírio maior foi no estande da Bitburger. É a terceira maior cervejaria alemã, fundada em 1817, que produz muita coisa boa. Batemos um longo papo com o representante alemão que revelou o desejo de expandir os negócios para o Brasil (tomara!). Ao final, quase levamos para casa os dois barris de 5 litros do estande, um de weissbier da Benediktiner e outro de premium pilsner da Bitburger por que não tínhamos como carregar pelos corredores da feira. Fica para uma próxima…

Uma excelente sacada da Anuga é proporcionar estandes coletivos, que reúnem pequenos produtores ou distribuidores que juntos tem fôlego para expor na feira. Inclusive brasileiros. Foi o que vimos no estande do Sebrae, onde pudemos degustar delícias do nordeste, como o icônico guaraná Jesus (ele é rosa e muito doce), o guaraná São Geraldo, que é tradicionalíssimo e um mártir de resistência ao assédio das majors do segmento, e a conhecidíssima Pitú, que é sinônimo de cachaça no nordeste.

No estande da entidade também conhecemos as cachaças João Mendes, de Perdões (MG), e Matuta, de Areia (PB). Arretadas! Continuamos pelas incríveis cervejas da X-Craft, produzidas no bairro de Interlagos, em São Paulo. Além de ótimas cervejas de linha ela tem uma pareceria com o Polo de Ecoturismo de São Paulo e produz rótulos comemorativos, como a Colônia Helles, especialmente para a Colônia Fest, que acontece em julho, a Guaraipa, uma ótima American IPA que ressalta a importância da Represa Guarapiranga para a cidade de São Paulo, e a Sour Cambuci, uma catharina sour mais leve e ácida, que leva o cambuci, fruto típico da Mata Atlântica. Recomendamos todas!

Outra boa descoberta foi a cerveja Cigana. Aqui, rola uma pegadinha. Cigana é o nome que se dá para as marcas de cervejas que não tem cervejaria própria e alugam a infraestrutura industrial de outras cervejarias para produzir seus rótulos. Só que aqui é o oposto. A Cigana faz cervejas para os ciganos e trouxe sua linha própria de cinco estilos só para a feira. Na ponta do estande ainda deu para conhecer os espumantes do Empório São Lourenço, um de cambuci e outro de amora…

Pausa para vinhos. Encontramos na Anuga vinhos libaneses! É isso mesmo. A Ishtar é uma vinícola boutique, a primeira fundada em Darbechtar, região de Koura, no Norte do Líbano. Ela trouxe para a feira o Ishtar Domus, um blend de 35% cabernet sauvignon, 25% merlot, 25% syrah e 15% sangiovese, de vermelho intenso e bem aveludado. E o curioso o Ishtar Aurum, que a cada safra muda a composição dos blends. O 2017 é 100% cabernet sauvignon; o 2018 tem 50% cabernet sauvignon e 50% syrah e o 2019 tem 50% cabernet sauvignon e 50% merlot. É provar para escolher o seu preferido. Também haviam no estande o Ishtar Rosea (30% grenache, 30% carignan, 20% cinsault e 20% cabernet sauvignon); o Ishtar Solis Branco Orgânico (50% chardonnay e 50% riesling) e o Ishtar Obeidy Branco Orgânico 100% obeidy. Para quem gosta de curiosidades, Ishtar é a deusa da guerra, do amor, sexo e fertilidade da antiga mesopotâmia, reinando nos jardins suspensos da Babilônia…

No estande do Chile fizemos uma degustação incrível dos vinhos da Teroa Wines, um exportador de vinhos finos chilenos dos prestigiados Vales do Maipo, Rapel e Colchagua. Começamos com o Toreto Chardonnay, bem frutado fácil de beber. Passamos para o Toreto Pinot Noir, um vinho com personalidade e forte sensação alcóolica. Em seguida provamos o Troreto Cabernet Sauvignon, um vinho muito bom que não passa em barrica. O próximo foi o Parrales Carménère, maturado por seis meses em barris de carvalho francês, encorpado, amadeirado e bem complexo. Seguimos com o Toreto Gran Reserva 100% Cabernet Sauvignon, um vinho excepcional, perfeito para acompanhar uma bela pasta italiana. Finalizamos com dois vinhos da Bestia, o Love Seduction Blend, um vinho bem frutado e equilibrado, e o Icono 666, que é um blend estupendo de 70% de syrah e 30% de cabernet sauvignon que passa 12 meses em barrica de carvalho francês e 12 meses em carvalho americano. Que degustação!

Saindo de lá fomos ao estande da Abrasel – Associação Brasileira de Bares e Restaurantes e conhecemos a cachaça Santa Capela, de Santa Bárbara d’Oeste (SP), que trouxe para feira seus três rótulos: clássica, carvalho e bálsamo. Elas são produzidas com cana-de-açúcar de plantação própria e destiladas em alambique de cobre. Depois descansam ou em inox (clássica) ou em barris das respectivas madeiras para ganhar maciez e muita personalidade. Interessante porque utiliza rigoroso processo produtivo no qual tudo é documentado e rastreável. Prática que as destilarias deveriam adotar para elevar a confiabilidade da cachaça no Brasil.

Eis que saindo de lá encontramos a Flensburger, uma cervejaria que fica na cidade homônima ao norte da Alemanha, na fronteira com a Dinamarca perto do Mar Báltico. Diz a lenda que cervejaria foi fundada em 1888 por cinco caras que tiveram a ideia de usar água da Idade do Gelo de um poço que abastece os riachos subterrâneos da Escandinávia. Mas o certo é que sua Pilsner é aquela receita clássica, de acordo com a Lei de Pureza Alemã. É tão tradicional que a cervejaria é um das poucas que ainda usa garrafas de vidro com tampa flip-top. Uma experiência bem bacana na hora de abrir (e melhor na hora de beber). Se eu fosse você eu experimentava…

Por falar em jeito diferente de engarrafar cerveja, na Aguga pudemos ver no estande da ChoppUP o sistema criado por essa startup de Osasco (SP) que permite que o chope seja servido de baixo para cima. Isto porque os copos (de vidro ou plástico) são adaptados com uma válvula no fundo que faz a mágica. A vantagem é que a tecnologia serve chope perfeito, com colarinho e evita o desperdício. Para se ter uma ideia, a média do desperdício de uma chopeira padrão é de 15% a 30%. Com o sistema ele cai para 1%. A chopeira não é vendida. Ela e os copos especiais são fornecidos pela empresa para os estabelecimentos que fizerem uma assinatura.

Outro equipamento interessante que vimos na Anuga foi uma “chopeira de água”. Explicando. A Tecnoline criou a máquina de água “Sempre Pura”, que utiliza o mesmo sistema de uma chopeira só que em vez de chope ela entrega água natural, água gelada e água com gás que passam por um super filtro. Uma ótima alternativa para o food service, pois reduz custos/logística e ajuda o meio ambiente na economia de garrafas e galões.

Ao lado, estava o estande da APTK, de drinks engarrafados. Foi perfeito para sorver um ótimo Negroni e dar sequência à visitação. Chegamos ao estande da Suntana, uma vinícola chilena do Vale Central. Produz vinhos bem equilibrados, com destaque para os brancos e rosés, bem leves e refrescantes. Na prateleira havia ainda um pinot noir e um malbec. Neste caso, vinhos sem passagem por barrica e de custo benefício atraente que nos fizeram refletir sobre o avanço dessas variedades no Chile.

Uma outra surpresa da Anuga se descortinou. Encontramos uma cervejaria de Rondônia! A Coronel Church adotou esse nome em homenagem ao homem que desbravou a região ao conseguir a concessão para construir a ferrovia Madeira Mamoré que deu início a tudo. O Brasil é mesmo sensacional e ao mesmo tempo cruel, porque é praticamente impossível a gente ter acesso fácil a produtos de outros estados. Os impostos são escorchantes e fazem os preços finais subirem a tal ponto que inviabilizam a comercialização. Então aproveitamos para provar a Pilsen, a Hop Lager e a IPA deles, que estavam redondas, o que mostra que basta “ensinar a pescar que o peixe vem”…

No outro estande do Sebrae havia painéis interativos muito bacanas nos quais você clicava e sabia detalhes dos produtos e empresas participantes como a cerveja Dona Maria e a cachaça Extrema. Boa ideia!!!

Na sequência, pausa para conhecer os rótulos da Toro de Piedra de outra vinícola chilena (eles estavam com tudo na feira), a Requingua, do Vale de Curicó. Um trabalho bem interessante de produzir vinhos de qualidade, reserva e gran reserva, de carménère, cabernet sauvignon e petit verdot, com passagens em barrica, a preços bem atraentes, entre R$ 100 e R$ 130 aqui. Um nicho que anda bem disputado, principalmente nos clubes e e-commerces especializados.

Mais surpresas pela frente. Lembra do Lorena Ativa, da Adega Chesini, de Farroupilha (RS), que provamos no estande da Embrapa? Pois encontramos espumantes de outro viticultor de Farroupilha, o Monte Paschoal. Ele trouxe um rosé e um branco brut, feitos pelo método charmat, e o Dedicato, um branco brut mais sofisticado elaborado pelo método champenoise. Ponto para os gaúchos!

Ali do lado, no estande dos argentinos, ainda encontramos o Steak Wine Malbec (que abriu o desejo de um belo bife ancho) envelhecido em barris de Bourbon. Ideia boa para um vinho para acompanhar um churrascão informal. Em uma outra linha encontramos ali do lado a Finca El Origen, argentina do Vale do Uco, de Mendoza, mas pertencente ao poderoso grupo chileno Carolina Wine Brands. Seus vinhos, tanto os malbec varietais quanto os blends reserva e gran reserva, são premiados internacionalmente, muitos com mais de 90 pontos do James Suckling, com um perfil elegante e complexo, que exprimem o seu privilegiado terroir. Para tomar e se sentir nos Andes…

Para o pessoal da coquetelaria, encontramos uma opção interessante. Os xaropes IX são produzidos em Embu das Artes, em São Paulo, e oferecem oito sabores diferentes a um ótimo custo/benefício para bares e food service. Ao seu lado, a Kallifa apresentava a sua linha de bebidas mistas feitas à base de gin saborizados de 20% de teor alcoólico. Na mesma pegada, a Quero Chuva trouxe suas bebidas mistas à base de cachaça, produzidas em Piracicaba (SP), no mesmo teor, em sete sabores.

Outra que aposta em bebidas à base de cachaça é a Dona Nani, uma criação do casal Manu e João, que veio de uma receita de cachaça com canela da mãe da Manu (Dona Nina) que acabou sendo engarrafada, deu certo e gerou ainda a Dona Lucy, com cumaru, a “baunilha brasileira”. A Dona Nany tem 20% de teor alcoólico, mas a Dona Lucy tem 39,5%… A velha é arretada! Por outro lado, a Bizzi oferecia uma linha de águas com gás saborizadas com frutas de verdade, sem adição de açúcar, corante e conservante, em latas de 269 ml e sem álcool. Praticidade…

Por falar em gin, foi bom rever a AMZ, um gin absolutamente interessante, feito no Pará e que leva jambu, que deixa a boca meio dormente. O AMZ Tropical Dry Gin vem em uma garrafa amarela de 700ml ou em lata de 350 ml para um refil idêntico, com os mesmos 42% de teor alcóolico a um preço mais camarada. Grande sacada!

Encerramos nossa participação na Anuga degustando uma surpresa final o Byzantium, um vinho rosé premium 100% syrah elaborado em Dealu Mare, uma famosa região vinícola da Romênia! Um vinho refrescante, com aroma floral e um leve sabor de frutas vermelhas e especiarias que até o príncipe romeno Vlad III, mas conhecido como Conde Drácula, se estivesse vivo(?), aprovaria!

Pedimos desculpas se não falamos de ótimas outras opções na feira, mas pelo seu tamanho e quantidade de opções é impossível resenhar tudo. Mas saímos da Anuga convencidos da sua abrangência e importância para o setor de bebidas. Parabéns a todos os envolvidos. Mal podemos esperar pela próxima edição. Mais informações no site: https://anuga-brazil.com.br/