O Chile promoveu uma degustação de piscos chilenos para difundir a bebida e demonstrar seu protagonismo na coquetelaria

O projeto Red Mercado Comercialización y Enoturismo Región de Coquimbo e a iniciativa Corpo y Enoturismo Chile convidou o Portal Mesa de Bar para um agradável evento de degustação de Piscos Chilenos de cinco produtores do país no Trinca Bar no bairro paulistano de Pinheiros.

O programa começou com uma apresentação dessa bebida seguida de uma degustação informal piscos e de um guest bartender para uma rodada de coquetéis com pisco criados por Gonzalo Arancibia, um dos mais reconhecidos bartenders do Chile, e Ale Bussab e Tabata Magarão residentes do Trinca Bar. 

A bebida

O Pisco é uma bebida alcoólica destilada a partir de uvas que tem denominação de origem protegida, ou seja, só pode ser produzido no Chile e no Peru. Há desavenças sob a paternidade e pequenas diferenças que envolvem a produção da bebida em cada país. Mas vamos nos ater ao Pisco produzido no Chile. Ele tem em média 40% de teor alcóolico e é uma bebida muito agradável, que pode ser consumida pura ou em coquetéis.

O pisco chileno é produzido apenas nas províncias de Coquimbo e Atacama, uma região entre o Oceano Pacífico e a divisa com a Argentina, por isso tem Denominação de Origem. Ele feito a partir de uvas aromáticas, principalmente da variedade moscatel, mas também pode ser produzido com uvas como pedro jiménez e torontel. Ele é naturalmente influenciado pelo clima e solo secos do país, e o sabor da bebida varia de acordo com a forma de produção.

Existem diferentes tipos de pisco chileno. O Pisco Branco pode ter sido destilado entre uma e três vezes, e descansa em tanques de aço ou madeira por até seis meses. É um pisco transparente, versátil e muito usado para coquetéis. Já o mesmo pisco branco que depois de destilado é submetido a um processo de envelhecimento em barris de carvalho francês ou americano por um período de 180 dias se chama Pisco de Guarda. E se descansou por no mínimo um ano é classificado como Pisco Envelhecido. A passagem pelas barricas confere um aroma e um sabor amadeirado e um final mais macio à bebida, o que a torna bem mais atraente para ser consumida pura.

A maioria da produção do Pisco chileno é artesanal, feita por pequenos produtores em áreas médias de cinco hectares. Muitos deles se organizam em cooperativas para a produção em larga escala sob uma única marca. Entretanto, atualmente, há um número significativo de pequenos produtores que estão apostando em um produto de maior qualidade e se lançando ao mercado com marca própria. Por isso, o interesse em abrir mercados internacionais como o brasileiro. Os organismos de apoio às exportações do país estão promovendo eventos e degustações, como a que participamos, para difundir a bebida e atrair investidores na sua comercialização mundo afora.

Um fato curioso que justifica esse envolvimento entre produtores e organismos governamentais é que dos 36 milhões de litros de Pisco produzidos no Chile anualmente, apenas 400 mil litros são exportados, ou seja, cerca de 1,1%. A grande demanda vem do consumo interno e a intenção é realmente conquistar mais espaços no mercado externo.

A degustação

A degustação não teve regras. Os cinco produtores presentes, Tololo, Los Nichos, Pisquera Aba, Pisquera Tualahuén e Nontay apresentaram dois rótulos de cada, um Branco e um Envelhecido. Nossa impressão é de que os brancos realmente exigem um paladar mais afeito a destilados fortes, como a nossa cachaça, porém com uma leveza maior. Já as versões envelhecidas agradam mais por serem mais suaves, aveludadas e com aquele amadeirado que conquista.

O destaque da degustação foi o Black Heron produzido de uvas moscatel pela Pisquera Tualahuén. A família Camposano fundou esta destilaria na pequena cidade de Tulahuén, aos pés da Cordilheira dos Andes. As vinhas ficam acima de 1.000 metros de altitude e são irrigadas com águas puras vindas da cordilheira. A pisqueira tem mais de 200 anos, e a técnica de destilação e gestão das vinhas moscatel foi aperfeiçoada por cinco gerações. Atualmente, ela incorporou novas técnicas e tecnologias permitido o desenvolvimento de piscos de alta qualidade.

O Black Heron, por exemplo, é feito de uma maneira curiosa. Depois de três vezes destilado o pisco vai para uma barrica de carvalho francês misturado a um pisco mais velho até atingir quase o total da barrica. O espaço restante é preenchido com fumaça de carvalho para acentuar o amadeirado e dar a ele notas bem sutis de defumado. O resultado provou ser eficiente criando uma bebida incrível, aveludada, com 43,5% de teor alcóolico. Tanto que o Black Heron faturou a medalha de duplo ouro no San Francisco World Spirits Competition 2024, considerado um dos mais prestigiados concursos de destilados do mundo.

Os coquetéis vieram na sequência e provaram que o pisco é um ótimo protagonista. Ele acentua a citricidade nos drinks com essa pegada e consegue uma elegância interessante nos coquetéis clássicos e nos autorais criativos.  

Gonzalo Arancibia apresentou quatro criações: o Evolución (Waqar, vermute branco, grapefruit, pimenta e hortelã), Chilean 31 (Nontay 43, espumante, xarope e suco de limão), Pichuncho (Black Heron, vermute tinto, tannat e bitter de laranja) e Nichollins (Los Nichos 40, jerez fino, cordial de abacaxi e água tônica). Já Ale Bussab e Tabata Magarão apresentaram o Pisco Sour Spritz (Aba Sour, Campari, triple sec e espumante) e o Clubpisco (Tololo Negro, vermute rosé, vinho do Porto branco e Angostura).

Ao final do evento fico claro que o Pisco merece um olhar mais atento dos bartenders e consumidores. Valeu a pena conhecer melhor a bebida. Mais informações nos sites: https://www.chile.travel/pt-br/ e https://www.prochile.gob.cl/ e no Instagram: @enoturismochile