Estivemos no lançamento do Guia Descorchados 2025, a publicação que é referência sobre a produção de vinhos na América do Sul
Lançado em 1999, o Guia Descorchados é uma publicação que avalia, pontua e recomenda vinhos produzidos na América do Sul que se tornou referência do segmento. Além das avaliações de rótulos, a publicação traz histórias, atualiza e fornece perspectivas do cenário vitivinícola — atividade que combina o cultivo de uvas (viticultura) com a produção de vinho (vinificação) – dos países sul-americanos.
Para a elaboração do Guia Descorchados 2025, que chega à sua 27ª edição, foram degustados mais de 4.000 vinhos de 210 vinícolas argentinas, 186 chilenas, 44 uruguaias, 47 brasileiras, 20 peruanas e 5 bolivianas. Foram feitas resenhas de mais de 500 vinícolas e seus vinhos recomendados, além das últimas notícias de cada país e mapas detalhados de seus principais terroirs. O Guia também trouxe rankings dos melhores vinhos catalogados por variedade e origem e as melhores relações preço-qualidade que surgiram nas degustações. Resumindo: o Guia Descorchados é uma ferramenta fundamental para quem quer conhecer e se aprofundar no cenário atual dos vinhos sul-americanos.


Apenas dois rótulos alcançaram a nota máxima de 100 pontos: o argentino Catena Zapata Adrianna Vineyard Mundus Bacillus Terrae 2022 e o Undurraga Altazor 2021, o primeiro chileno a alcançar essa conquista. Entretanto, atualmente ambos estão indisponíveis no mercado brasileiro. Do Brasil, o melhor colocado foi o espumante gaúcho Casa Valduga Maria Valduga Nature, com 95 pontos, que também ainda não chegou oficialmente ao mercado.
“O Descorchados 2025 é mais do que um guia, é uma celebração dos vinhos sul-americanos. Os eventos proporcionam uma verdadeira viagem, conectando enólogos, produtores e apreciadores em um ambiente único”
Christian Burgos, apresentador do programa Adega Sabor & Arte



Para marcar o lançamento das edições anuais do Guia Descorchados acontece no Brasil, desde 2012, um evento de lançamento em São Paulo e outro no Rio de Janeiro, com a organização do Inner Group em parceria com o criador da publicação, o jornalista e crítico chileno Patricio Tapia, reunindo os principais produtores de vinhos latino-americanos e expoentes do setor. Este ano, os eventos reuniram cerca de 1.700 convidados.
O Portal Mesa de Bar esteve presente no evento em São Paulo, que aconteceu no dia 1 de abril, no espaço Villagio JK, e traz aqui impressões de alguns vinhos apresentados no evento, uma vez que é impossível resenhar todos. Mas há boas dicas desde os melhores vinhos da América do Sul aos mais acessíveis, passando por descobertas incríveis.
Os vinhos
Começamos nossa degustação pelos vinhos da Sacramentos Vinifer, da Serra Gaúcha. O Sabina Syrah já foi eleito por três vezes o melhor vinho tinto do Brasil. O Sabina Entre Serras é um 100% syrah, mas de terroirs diferentes (60% da Serra da Mantiqueira e 40% da Serra da Canastra). E o Sabina Syrah Seleção de Parcelas 2024 é auto explicativo, ou seja, é a melhor versão dos syrah da vinícola. E finalizamos com o espumante Sabrina Extra Brut, um ótimo blend de pinot noir, chenin blanc e chardonnay. Um excelente começo!
Passamos para o estande da Adega Refinaria, de Bento Gonçalves (RS), e provamos três rótulos da linha Otto, criada para comemorar os oito anos da vinícola. Degustamos um sauvignon blanc, um cabernet franc e um cuvè blanc de blanc (um blend de chardonnay, viognier, trebbiano e riesling). Excelentes vinhos! Detalhe interessante é que os gargalhos são finalizados com cera, uma a um, demonstrando o cuidado com cada garrafa. Uma grata surpresa!






Seguimos para a Basso, também da Serra Gaúcha, onde provamos os espumantes Mayos Branco Brut e Nature, ambos 100% chardonay feitos pelo método tradicional champenoise, com 24 meses de maturação. Da Campanha Gaúcha provamos o Guatambu Potter Tannat. A curiosidade é que “Potter” em inglês significa pessoa que fabrica potes de cerâmica ou similares, e também é o sobrenome da família fundadora da Vinícola Guatambu. Assim, o vinho tem referências aos dois, pois é uma edição limitada que fica seis meses maturando em ânfora de concreto. Resultado: um vinho que não fica atrás de nenhum tannat uruguaio.
Da mesma Guatambu provamos o Luar do Pampa, um gewürztraminer inusitado que não é adocicado nem perfumado demais, como é típico do estilo. E finalizamos com o Épico VIII, um dos vinhos mais premiados do terroir da Campanha Gaúcha, elaborado com uvas tannat, cabernet sauvignon, tempranillo e merlot, das melhores parcelas dos vinhedos da Guatambu, das safras 2020, 2021 e 2022. Fez jus ao nome.
Passamos para a vinícola Vita Eterna, de Pinto Bandeira (RS), onde degustamos os espumantes: Vita Eterna Nature, um blend de chardonnay e pinot noir, com 24 meses de maturação na garrafa, e o Vita Eterna Orange de Noir Brut, um 100% pinot noir macerado com as cascas de chardonnay que lhe confere a cor laranja e um sabor diferenciado.






No estande da Luigi Bosca provamos o Filos, um chardonnay de altitude do Vale do Uco, em Mendoza, que confirma a sua origem por seu perfil elegante, frutado, com intensa acidez e mineralidade e um leve amadeirado, fruto de oito meses de maturação em barricas de carvalho. Passamos para o De Sangre Malbec Paraje de Altamira, um malbec de produção limitada, com uma forte mineralidade. Vinhaço!!
Continuamos pelos vinhos argentinos de Mendoza no estande da Susana Balbo onde provamos o Signature White Blend, feito de 38% torrontés, 32% sauvignon blanc, 30% semillon que deu origem a um vinho fresco e equilibrado, floral, com um leve toque cítrico. Em seguida provamos o Signature Malbec, com apenas 4% de petit verdot para equilibrar e 13 meses em barricas de carvalho francês. Mas o melhor foi o incrível Signature Brioso, um blend de 52% malbec, 45% cabernet sauvignon, 1,5% petit verdot e 1,5% cabernet franc. Ele passa cinco meses em barricas de carvalho francês para arredondar. Resultado: 93 pontos de Robert Parker, 95 de James Suckling e 94 de Tim Atkin e do Descorchados. Precisa dizer mais? Todos excelentes vinhos! Aliás, a linha Signature expressa o estilo e a da prestigiada Susana Balbo, uma das maiores enólogas da Argentina.




Da Família Milan provamos o Descendientes de Los Monos Malbec Jarillas Guardiana (uma flor das montanhas de Mendoza) que expressa as características da região. É um vinho muito aromático e intenso, de muita fruta vermelha, com um toque de mineralidade. Da renomada vinícola El Enemigo, de Luján de Cuyo, provamos o Semillón, maturado parte em barricas de carvalho francês e parte sob “véu de flor”, como os vinhos de Jerez, que consiste na formação de uma camada de leveduras sobre o vinho que o protege da oxidação. O resultado é um vinho fresco e aromático, com um final longo e mineral. E finalizamos com o Bonarda Los Paraísos, um vinho que matura por 12 meses em foudre e que eleva a bonarda a um perfil mais intenso, encorpado, muito interessante.
Também de Luján de Cuyo, degustamos da Sottano o Barrabas by Judas, um cabernet franc com muita personalidade. Ele vem de quatro terroirs diferentes e maturou por 16 a 20 meses em barricas de carvalho, sendo 70% francês, 20% americano e 10% húngaro, que deram a ele a clássica sensação de frutas vermelhas maduras, especiarias, chocolate e tabaco. Um vinho concentrado e maduro, com bom potencial de guarda (se você aguentar esperar!).



Da Kaiken provamos o seu Ultra Malbec 2021, um vinho que é elaborado apenas em safras excepcionais. Fora isso, ele estagia por 12 meses em carvalho francês, sendo 1/3 em barricas novas, 1/3 em barricas de segundo ano e 1/3 em barricas de terceiro ano. Depois o vinho repousa mais seis meses em garrafa. Um Malbec excepcional que exprime as melhores características região de Mendoza, com o sensorial de frutas negras, chocolate amargo, especiarias e toques de menta e mineralidade. Provamos também da Kaiken o Disobedience By Francis Mallman. Este chef argentino mundialmente famoso assina o vinho, mas recomenda que ele foi criado “para festejar amizade, amor, reencontro… E celebrar a liberdade, pois ninguém pode decidir como fazer”. Ou seja, um vinho livre e “desobediente” como Mallmann, feito com 60% Malbec, 30% Cabernet Sauvignon e 10% Merlot com 15 meses de amadurecimento em 30% em barricas de carvalho francês de primeiro uso e 70% em barricas de segundo a quarto uso, com ainda seis meses de estagio em garrafa. Resumindo, um vinho desobediente… pero no mucho! O certo é que é um ótimo vinho! Imagine acompanhando um churrasco de Mallmann…
Da vinícola Saphyle, da região de Lujan de Cuyo, provamos o LUI Harmony, um 100% cabernet franc excelente. Ele matura por 12 meses em barricas de carvalho francês e depois passa seis meses em garrafa. Um vinho com sensorial de frutas vermelhas e negras maduras, com notas de pimentão vermelho, especiarias e um leve defumado.



Passamos no estande da Doña Paula, vinícola argentina no Vale do Uco do grupo Santa Rita, para degustar o Doña Paula 1350 Altitude Series, um blend de cabernet franc (50%), malbec (45%) e casavecchia (5%) que resultou em um vinho intenso, complexo, com notas de frutas vermelhas, especiarias e florais de ótima estrutura.
Hora de experimentar os surpreendentes vinhos da Decero, uma vinícola de Agrelo, Mendoza, que produz a linha Mini Ediciones, de vinhos varietais em quantidades limitadas. Provamos o Mini Ediciones Cabernet Franc que tem um corpo médio aveludado com notas de grafite e ameixa. Um vinho muito equilibrado, estruturado e que tem grande potencial de guarda. Não à toa foi eleito pelo crítico Tim Atkin como o melhor cabernet franc da argentina. Provamos também o Decero Remolinos Vineyard Malbec, que tem aromas intensos de violeta, cereja e framboesa, corpo médio, mas concentrado, com notas de ameixa escura e avelã em um ótimo equilíbrio. Excelentes vinhos!
Da conhecida Trivento, também em Luján de Cuyo, mas pertencente ao grupo chileno Concha y Toro, provamos o Golden Reserve Malbec, um vinho premiado que passa 12 meses em barricas de carvalho francês e foudre e complementado por 12 meses em garrafa, que dão a ele aromas e sabores intensos de frutas vermelhas, ameixa, chocolate e toques de baunilha e carvalho. Um vinho sofisticado de ótimo custo/benefício.




Hora de degustar o Coyam, da vinícola chilena Emiliana. Coyam, em dialeto mapouche, significa “carvalho chileno”, comuns nos vinhedos de Los Robles no Valle de Colchagua onde ele é produzido. É um vinho ícone da Emiliana, pois representa toda a preocupação da vinícola com a produção orgânica e biodinâmica a fim de expressar ao máximo o terroir da região. Ele é um blend de syrah, carménère, cabernet sauvignon, mourvedre, malbec e petit verdot. Um vinho intenso, com personalidade. O Gê, por sua vez, é uma preciosidade da vinícola. O nome em grego significa “terra”, uma homenagem ao terroir que o produziu, também seguindo a produção orgânica e biodinâmica a partir das uvas syrah e carménère. Um vinho que impressionou James Sukling que lhe deu 98 pontos na safra 2021. Um vinhaço!
Chegamos ao estande da vinícola chilena De Martino e provamos o Las Cruces, um ótimo blend de malbec (75%) e carmenére (25%). Um vinho intenso de vinhas velhas do Valle de Cachapoal com amadurecimento em foudres por 24 meses que conferem a ele aquele tradicional sensorial de frutas vermelhas e negras maduras, com notas terrosas, florais e de especiarias. Já o De Martino Cuvée é um ícone da vinícola. A safra 2022 é a terceira edição desse blend de 91% cabernet sauvignon, 5% malbec e 4% petit verdot de vinhedos da Isla de Maipo, com estágio de 19 meses em barricas de carvalho, sendo os dois primeiros em barricas velhas e os 15 restantes em foudres. Um vinho complexo, de alta acidez e um sensorial de frutas vermelhas e negras frescas, um floral que lembra violetas e notas de cassis.








Na Viña Montes, vinícola chilena reconhecida pela qualidade de seus rótulos, degustamos o Montes Alpha M, um blend de cabernet franc 10%, cabernet sauvignon 80%, merlot 5% e petit verdot 5% de vinhedos do Vale do Colchagua. Ele estagia por 18 meses em barricas de carvalho francês que aumenta sua percepção de amadeirado, com notas de tabaco bem equilibradas com as tradicionais frutas vermelhas. Um dos vinhos mais premiados do Chile.
No retorno aos vinhos argentinos, degustamos da Norton, do Vale do Uco, o Lote Blanco, um varietal da uva austríaca grüner veltliner. Só por isso ele já desperta interesse e não decepciona. Um vinho claro, leve, com aromas de frutas amarelas e maçã verde, seco e não tão doce, com um toque mineral salino. Uma boa descoberta.
E para fechar nossa degustação com chave de ouro pelas delícias do Descorchados 2025 estivemos no estande da Catena Zapata para provar duas preciosidades. O Lunlunta Malbec 2022 é um surpreendente malbec de terroir de altitude. Ele estagiou por 13 meses em barricas de carvalho francês, sendo metade em barricas novas. Ele tem aromas florais e um sensorial de frutas vermelhas maduras com um toque terroso e de especiarias. Um vinho mais complexo, suculento e cativante. Finalizamos com o Nicasia Vineyard Malbec, de uvas plantadas no famoso vinhedo “Nicasia”, em Altamira, na região de Mendoza, com 18 meses de maturação em barricas de carvalho francês. Apesar de receber um toque de cabernet franc (7%), ele é considerado um verdadeiro ícone da Argentina, parâmetro do que um Malbec deveria ser: muito complexo, aveludado, potente e sofisticado.
O guia é publicado no país pela Inner Editora em três volumes que totalizam 1.172 páginas ao preço sugerido de R$ 295. Mais informações nos sites: https://guiadescorchados.cl e www.adegaonline.com.br e nos Instagram: @guiadescorchados @revistaadega
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