Sean Connery, ícone do cinema, morre aos 90 anos e deixa também um legado para a coquetelaria: o Vesper
Sean Connery não está mais entre nós. Este excelente ator escocês emplacou 94 papéis ao longo de mais de 50 anos de uma carreira brilhante. Mas será sempre lembrado como o primeiro (e para muitos o melhor) espião James Bond, um ícone do cinema. Foram sete filmes do “007”: “O satânico Dr. No” (1962), “Moscou contra 007” (1963), “007 contra Goldfinger” (1964), “007 Contra a chantagem atômica” (1965), “Com 007 só se vive duas vezes” (1967), “007 – Os diamantes são eternos” (1971) e “007 – Nunca mais outra vez” (1983).
Fiquei triste porque tinha um carinho especial por ele. Quantos garotos não sonharam em ser o “James Bond”!? Vi outros filmes memoráveis dele, como “Highlander”, “O Nome da Rosa, “Indiana Jones e a Última Cruzada”, “Armadilha”, “A Rocha” e “Caçada ao Outubro Vermelho” só para citar alguns. Mas foi como o experiente oficial de polícia de Chicago Jimmy Malone em “Os intocáveis”, de Brian de Palma, que ele levou seu único Oscar, em 1988, na categoria de melhor ator coadjuvante. Lembro da cerimônia quando ele foi aplaudido de pé por minutos. Uma unanimidade pouco vista em Hollywood.
Sean Connery sempre foi sinônimo de elegância, cavalheirismo e charme sedutor. E também por ser um grande apreciador de bebidas e drinks. Tanto que imortalizou um drink: o Vesper, que se tornou um clássico da coquetelaria.
Na verdade, o Vesper foi inventado e batizado pelo escritor Ian Fleming no romance de James Bond “Casino Royale”, de 1953. Vesper era nome da agente dupla com quem Bond se envolve. Ao ser apresentado a ela, ele pergunta seu nome. Ela responde: “Vesper Lynd… Eu nasci em uma noite muito tempestuosa.” Foi a deixa para Bond perguntar a ela se poderia batizar um drink que inventara com o seu nome. No livro, ele descreve como se faz a bebida a um bartender:
“Coloque três medidas de Gordon’s, uma de vodka, meia medida de Kina Lillet e gelo. Agite muito bem até esfriar, depois acrescente uma casca grande e fina de limão.” Em seguida ele profere a frase célebre: “Batido e não mexido!”.
Por que batido e não mexido? Ao sacudir a coqueteleira com gelo, ele derrete, dissolvendo e gelando mais a bebida e até a deixando meio turva. Na cartilha de um Martini tradicional isso não é recomendável. No entanto, o nome dele é Bond, James Bond…
Versões contemporâneas
O Kina Lillet, aperitivo francês a base de quinino, não existe mais. Agora, usa-se o Lillet Blanc, menos intenso. Os bartenders de hoje então partiram ou para criar novas versões para o Vesper ou tentam chegar perto do seu sabor original. Eu mesmo bebi e me apaixonei pelo Vesper na primeira vez que provei o drink feito pelo mestre Derivan.
Se você pretende recriar a receita original, um truque para usar o Lillet Blanc é acrescentar a ele uma pitada de quinino em pó. Ou então no lugar dele pode-se usar o Cocchi Americano, que é um pouco mais amargo.
No caso da vodka, deve-se usar uma com 50% de teor, como a Absolut 100, para trazer a potência alcoólica aos níveis das vodkas produzidas em 1953. Mas se não tiver tudo bem. Já o gin em vez do Gordon’s, que sofreu uma redução de teor, pode se usar o Tanqueray, Bombay Sapphire, Beefeater, Monkey 47 ou os nacionais Draco e At Five ou mesmo outro que tenha 47% de teor.
Use as medidas do Bond, misture tudo e bata bem na coqueteleira. Sirva coando em uma taça de coquetel resfriada. Para finalizar, decore com um twist de uma casca fina e comprida de limão siciliano.
Um brinde ao Sean Connery, nosso eterno James Bond!