A cervejaria Morada Cia Etílica comemora 10 anos e comprova que uma cervejaria cigana pode atingir o sucesso

A Morada Cia. Etílica, de Curitiba (PR),  acaba de completar 10 anos. O aniversário pode e deve ser celebrado. Afinal, a marca é cigana, ou seja, aluga uma cervejaria, no caso a também curitibana Maniacs, para fabricar suas receitas mostrando que o modelo pode sim alcançar excelência de qualidade, prestígio e aceitação de mercado. Uma equação que é sinônimo de sucesso.

A cervejaria pertence ao casal André Junqueira e Fernanda Lazzari. “Administrador de empresas em outra vida”, Junka (como é chamado) e a Engenheira Agrônoma e Mestre em Entomologia, Fernanda, eram cervejeiros e destiladores caseiros em 2010 quando resolveram levar a sério seu hobby. Uma história um tanto clichê, mas que tem ingredientes diferenciais determinantes. Eles buscaram conhecimento e foram aperfeiçoando sua técnica e ousando nas receitas.

Junka foi aos EUA estudar no Siebel Institute, em Chicago, onde cursou o Advanced Homebrewing Program e o Craft Distilling Operations and Technology. Se formou em sommelier de cervejas pela Associação Brasileira de Sommeliers em 2011. Desde 2010, ele atua como instrutor e palestrante em diversos eventos das ACervAs, Procerva e escolas pelo país, tendo passagem pela Cervejaria Escola Bodebrown, Science of Beer, Universidade Positivo e Escola Superior de Cerveja e Malte. Atualmente integra o corpo docente do Instituto da Cerveja Brasil.

Fernanda também se formou em sommelier de cervejas pela Associação Brasileira de Sommeliers em 2011 e se tornou juíza nível National, Mead e Cider Judge pelo Beer Judge Certification Program. Promove e organiza concursos nacionais e internacionais de cerveja, hidromel e sidra, desde 2012, e também ministra cursos e eventos de degustação, harmonização e análise sensorial. O casal participou ativamente da fundação da Procerva e da ACervA-PR sendo que Junka foi o primeiro presidente da entidade.

A Morada Cia. Etílica começou oficialmente como marca em maio de 2011. Desde então, eles nunca pararam de testar receitas de estilos tradicionais e de brincar com combinações inéditas e inusitadas. Vários testes deram certo e de muitos deles saíram cervejas, sidras e vinhos premiados e reconhecidos pela sua qualidade e características únicas. Eles mesmos definem seu trabalho como “uma união de ingredientes e técnicas para desenvolver bebidas de interesse cultural, gastronômico e artístico, explorando conceitos de experimentação de sabores, rompendo com o lugar comum dos estilos”.

“A Morada é uma companhia etílica cigana que desenvolve bebidas de exceção – para quem tem sede curiosa e paladar inquieto. Nosso tesão é investigar ingredientes e técnicas para criar bebidas conceitualmente relevantes, artisticamente provocadoras e gastronomicamente interessantes, sempre explorando as lacunas, os entre-estilos e os cantos esquecidos do universo etílico já que a monotonia da zona de conforto é nosso inferno ideológico. Acreditamos que os etílicos são parte viva de nossa herança ancestral humana e que devem ser honrados e valorizados. Somos agentes da revolução, da renovação e da evolução da cultura etílica e assim seguiremos, das trincheiras, arremessando garrafas de efeito moral na cara da mesmice”
Fernanda Lazzari, sócia da Morada Cia. Etílica

Criações fora da curva

Entre as ótimas criações da Morada Cia. Etílica, certamente a mais famosa é a Hop Arabica. É uma cerveja com café surpreendente. Para começar, ela é clara, contrariando praticamente todas as cervejas com café do mercado. A receita usou a base de maltes e a fermentação de uma Blond Ale Americana e uma lupulagem de aroma intenso. O café especial da Fazenda Sertão de Carmo de Minas é super presente e intrigante, trazendo uma complexidade e paladar únicos para esta bela bebida. O slogan que a cervejaria usa é perfeito: “Seria este o café mais lupuladamente refrescante? Ou a cerveja mais cafeinadamente aromática? Hop Arábica, o melhor das duas bebidas numa só”. Medalha de ouro na categoria coffee beer do Concurso Brasileiro de Cerveja, em Blumenau, em 2014, e medalha de ouro na mesma categoria no South Beer Cup, a Hop Arabica é referência no mercado quando se fala de cerveja com café.

Outras cervejas do portfólio impressionam. A Cupuaçu Sour é uma Berliner Weisse com cupuaçu, ou seja, uma combinação inusitada de um estilo alemão, com malte de trigo e flocos de aveia para trazer cremosidade, com a adição de uma fruta tropical vinda diretamente de Ilhéus, na Bahia, e uma fermentação que segue a linha Saison belga. O resultado é uma cerveja complexa, ácida, aromática e frutada, bastante refrescante, com 5,5% de teor e 7 IBU. Ela lembra, talvez, um bom vinho branco seco e frutado.

Junka gosta de transcender e criou uma versão champenoise da Cupuaçu Sour envelhecida em cave por 12 meses. A Cupuaçu Brut tem aroma e sabor frutado intenso de cupuaçu, acidez marcante e notas da refermentação em garrafa e do envelhecimento características do estilo. Juntamente com o corpo leve e final seco resultam numa bière brut intensa, refrescante e de ótimo drinkability, com 11,5% de teor alcoólico.

A C.D.B. (ou Cu de Burro) é uma Gose com limão, uma homenagem à tradição botequeira brasileira de se beber cerveja trincando com limão e sal. Uma cerveja super leve, ácida e refrescante, que leva sal, cascas de limão tahiti e flocos de aveia, para adicionar cremosidade, e o dryhopping é feito com o lúpulo japonês Sorachi Ace, que acentuou ainda mais a citricidade do limão da cerveja. E a arte do rótulo é simplesmente sensacional! Medalha de prata na categoria Contemporary Gose no Festival Brasileiro da Cerveja 2016 e Ouro no mesmo festival em 2017.

A Double Vienna é uma American Amber Lager. Fica nítido o sabor maltado, meio caramelo, e o tom acobreado do malte vienna, mas também, pela carga do lúpulo amarillo, a cerveja ganha toques intensos de maracujá. Um belo encontro do clássico austríaco com o moderno norte-americano numa bebida encorpada, intensa e com grande potencial para harmonizações. Impressiona também os 7,6% de teor alcoólico e os 36 IBU. Medalha de Ouro no Festival Brasileiro da Cerveja de 2013.

A Double Vienna Brut é a sua também surpreendente versão champenoise. Após envelhecer em garrafa sobre as leveduras de champagne por 18 meses, ela passa por remuáge e degórgement, onde a borra de levedura é removida e o produto finalizado com a rolha e gaiola. Apresenta notas maltadas, de especiarias e final levemente lupulado. Detalhe: ela passa a ter 11,5% de teor alcoólico!

A Gasoline Soul é uma Scotch Ale feita em homenagem aos aficionados por duas rodas e cervejas artesanais. De cor castanho avermelhada, ela é maltada, com notas de caramelo, toffee e frutas secas. Além disso, é maturada sobre lascas de barris de bourbon de carvalho norte-americano que lhe dão um final levemente amadeirado, com 6,7% de teor, para aumentar a octanagem, e 30 IBU. Medalha de prata em 2015, de ouro em 2016 e de bronze em 2017 na categoria Scotch Ale do Festival Brasileiro da Cerveja em Blumenau.

A Gasoline Sour Flanders Red Ale é a versão da Soul envelhecida por 2 anos em barris de vinho do porto, refermentada em garrafa por 1 ano com brettanomyces. Ela é bem ácida, maltada e com toques de amadeirado e chocolate. Uma cerveja que se aproxima do mundo dos vinhos, com muito requinte e sofisticação. Medalha de ouro no Concurso Brasileiro de Cervejas em 2016 e prata no mesmo concurso em 2017.

Por falar em brettanomyces, a Abera Brut é uma cerveja de centeio, acidificada com uso de lactobacillus, fermentação primária com leveduras selvagens brettanomyces e finalizada por refermentação em garrafa pelo método champenoise, envelhecida em cave por 26 meses, com 11,5% de teor alcoólico. Coisa fina…

E para quem gosta de um bom espumante, a Morada Cia. Etílica tem a linha Eu Borbulho, nas versões Branco e Rosé. São espumantes nature de mínima intervenção, produzidos pelo método ancestral com presença de leveduras nativas da uva e envelhecidos junto à borra por 12 meses. Não filtrados, sem adição de sulfitos, conservantes, estabilizantes ou açúcares. O branco é produzido com uvas Chardonay e o Rosé com a Merlot da Serra Gaúcha. Eles têm 12% e 13% respectivamente de teor alcoólico. O Branco foi premiado na Grande Prova Vinhos do Brasil 2020.

Nas prateleiras

A Morada Cia. Etílica tem no seu portfólio uma conquista diferente. Ela foi escolhida para elaborar a cerveja comemorativa dos 60 da rede supermercadista Pão de Açúcar. Trata-se de uma Bière Brut com maracujá também produzida sob o método champenoise, com uma segunda fermentação na garrafa rolhada de 750 ml. Ela é dourada, ácida, com carbonatação alta, corpo leve e efervescente, bem cítrica, com aroma e sabor intenso de maracujá. Uma cerveja única e complexa e ainda disponível nas lojas físicas do Pão de Açúcar em todo o Brasil.

Como editor do Portal Mesa de Bar gostaria de deixar aqui registrado em fotos as duas cervejas maravilhosas que provei da marca (as minhas impressões estão no meu Instagram @saideira.beer). E parabenizar a Morada Cia. Etílica, Junka e Fernanda, pelo seu pioneirismo, ousadia e determinação em fazer produtos “fora da curva”, que encantam e elevam o nível das cervejas artesanais no mercado brasileiro. Keep Walking! Parabéns!!!

É possível encontrar essas e outras cervejas da Morada Cia. Etílica nos melhores pontos de venda e também no e-commerce da Maniacs (https://www.maniacs.com.br).