Festival dos Vinhos do Alentejo movimentou o consulado de Portugal em São Paulo com degustações e workshops sobre vinhos e harmonizações

Nos dias 29 e 30 de agosto de 2025, o Consulado Geral de Portugal, em São Paulo, recebeu o Festival dos Vinhos do Alentejo, uma verdadeira celebração dos sabores de uma das regiões vitivinícolas mais emblemáticas do mundo. O Festival ofereceu aos participantes uma programação completa de degustações, experiências gastronômicas e networking direto com produtores, importadores e distribuidores das vinícolas portuguesas.

O Portal Mesa de Bar esteve presente ao evento e traz a seguir um pouco do que degustou e experimentou. Por falar em experiências, destaque para a “Arena de Sabores”, uma iniciativa da organização em promover no evento wokshops de harmonização de vinhos com pratos típicos portugueses. Participamos de uma excelente delas sobre vinho com bacalhau comandada pelo sommelier Gabriel Reale que mostrou que essa clássica combinação perdura com louvor.

A degustação

Começamos nosso “tour” pelos vinhos alentejanos com o Colheita 2023, um vinho orgânico da renomada Herdade do Esporão, com estágio em cubas de concreto, bem fresco e pronto para agradar. Engatamos no Monte das Ânforas, da renomada Bacalhôa. Os vinhos de talha ou de ânfora foram criados pelos romanos que usavam estes enormes recipientes de barro para fermentar as uvas. Tradicionalmente, os produtores da região do Alentejo passaram a usar ânforas de cerâmica para driblar a falta de barricas de madeira. E acabaram consolidando um estilo de vinho alentejano mais fresco, pronto para o consumo. Este é um blend das três mais emblemáticas castas do Alentejo: aragonez, alicante bouschet e trincadeira. Ou seja, um vinho com DNA de referência da região.

Da mesma Bacalhôa provamos o Alabastro Reserva, um blend de aragonez, trincadeira e alicante bouschet com 15 meses de maturação em barricas de carvalho francês. Ele tem aquele sensorial de frutas vermelhas com notas de baunilha, especiarias e madeira tostada, um belo corpo e um final macio. A curiosidade da joaninha do rótulo é que ela representa a decisão da vinícola por abandonar os defensivos agrícolas e optar pela proteção natural desse incrível inseto contra as pragas que assolam as videiras. Viva a joaninha!

Passamos para a Herdade do Peso para degustar uma dupla incrível. O Parcelas, como o nome diz, é elaborado de uvas selecionadas dos principais vinhedos da vinícola com alicante bouschet (74%), petit verdot (16%) e syrah (10%). Ou seja: um vinho alentejano complexo, aromático, com taninos firmes e ótimo frescor. Já o Reserva é um blend de touriga nacional (45%), alicante bouschet (45%) e cabernet sauvignon (10%). Um ótimo vinho, macio, frutado e de final longo. Descobrimos também que a Herdade do Peso é comandada há três décadas pela família Guedes e pela Sogrape e que realizam um belo trabalho de resgate de 36 espécies autóctones portuguesas no Baixo Alentejo. Vem mais coisa boa por aí…

Da Herdade do Monte da Ribeira provamos o Pousio Reserva branco, um blend de arinto, verdelho e alvarinho. Um vinho com aquele frescor em equilíbrio com um frutado e um toque de baunilha. Provamos também o Pousio Edição Limitada Syrah, que é um lançamento. Um vinho macio, aveludado, intenso, encorpado, com final longo e persistente. Ótimo vinho! Da mesma vinícola provamos o Marmelar, um blend de alicante bouschet, petit syrah e petit verdot com estágio em barricas de carvalho francês. Um vinho complexo, intenso… um belo representante dos vinhos alentejanos.

Passamos para um branco da Conde D’Ervideira, o Escolha do Enólogo. Ele é bem diferente, pois é um “branco de inverno”, ou seja, um vinho branco mais encorpado pensado para se degustar no inverno, quando o vinho branco é meio que deixado de lado pelos tintos. Este é feito das uvas antão vaz (96%) e viosinho (4%), autóctones de Portugal, com seis meses de maturação em carvalho húngaro de segundo uso.

Outro branco que degustamos foi o Adega Mayor Reserva, um blend de viognier, verdelho e antão vaz. Um vinho fresco e delicado, com toques florais e de frutas cítricas. Da mesma vinícola provamos mais quatro. O primeiro um 100% Verdelho, um vinho com frescor, aroma e sabor intenso de frutas tropicais com uma excelente mineralidade. Depois o Reserva do Comendador, que homenageia o Comendador Rui Nabeiro. É um blend de alicante bouschet (60%), touriga nacional (30%) e syrah (10%) com complexidade, um corpo bem equilibrado e um toque especiarias e amadeirado, resultado de seu envelhecimento por 18 meses em barricas de carvalho francês. Um belo vinho. No rótulo o enólogo revela seu sonho de “criar sempre mais”…

E finalizamos com uma boa dupla da Adega Mayor. Começamos com um 100% Touriga Nacional, um vinho intenso, com sensorial de frutas vermelhas, mas de textura suave. Belo vinho! E o Reserva tinto, um blend de aragonez (40%), touriga nacional (30%) e alicante bouschet (30%). Um vinho bem intenso, expressivo, com sensorial de frutas vermelhas e notas de especiarias e um tostado vindo da madeira da barrica de carvalho francês onde ele maturou por 12 meses.

O evento proporcionou duas ótimas surpresas. A primeira foi conhecer os vinhos da Santa Vitória, uma empresa do Grupo Vila Galé que produz vinhos e azeites alentejanos de qualidade superior que está começando a chegar no Brasil. Fomos apresentados a três rótulos. O primeiro é o Reserva que é um blend de touriga nacional, trincadeira, syrah e cabernet sauvignon com nove meses de estágio em barricas de carvalho francês. Um vinho muito saboroso, com sensorial de ameixa madura e groselha com notas de especiarias e baunilha. E o melhor custo benefício (R$ 72) que vimos em todo evento.

Partimos para o Santa Vitória Grande Reserva, um blend de touriga nacional, cabernet sauvignon e syrah com estágio de 13 meses em barricas de carvalho francês e um ano em garrafa. Um vinho intenso, frutado com notas de casca de laranja, chocolate e especiarias. E finalizamos com um 100% Touriga Nacional, com 14 meses de maturação em barricas de carvalho francês. Um vinho intenso, encorpado, com um leve aroma floral e um sabor de frutas vermelhas maduras e notas de café e de especiarias. Belos vinhos!

Finalizamos a nossa degustação com dois fantásticos vinhos da Bojador elaborados pelo enólogo português Pedro Ribeiro a partir de vinhas velhas selecionadas. O primeiro é o Bojador 10 anos, um blend de moreto, trincadeira e alicante bouschet com 12 meses de maturação em barricas de carvalho francês e seis meses em garrafa. Um vinho intenso, com um raro equilíbrio entre o sabor de frutas vermelhas, tatinos firmes, frescor, toques de especiarias e um final espetacular. Talvez o melhor degustado no evento.

Provamos também o Bojador Vinho de Talha. É um belo representante deste tipo de vinho elaborado com as uvas trincadeira, moreto e tinta grossa fermentado com leveduras indígenas em talhas (ou ânforas) de barro e sem controle de temperatura. Não leva qualquer adição ou correção dos mostos e fica apenas dois meses em garrafa. Um vinho naturalmente fresco, com a intensidade das frutas vermelhas e uma mineralidade característica das talhas. Muito interessante!

Aqui cabe um pouco mais de história. O nome da vinícola foi inspirado no Cabo Bojador, localizado na costa atlântica da África, também conhecido como o “Cabo do Medo“, pois a sua passagem era muito perigosa devido aos recifes e mar agitado. O navegador português Gil Eanes foi o primeiro a contornar o cabo em 1434, quebrando os mitos medievais de monstros marinhos e sereias que afundavam os navios e abriu caminho para época dos Descobrimentos. Uma homenagem interessante que faz referência às tradições do passado e a ousadia de procurar novos caminhos para um mundo novo de aromas e sabores.

Parabéns aos organizadores do Festival dos Vinhos do Alentejo e ao Consulado de Portugal pela oportunidade de conhecer e se aprofundar ainda mais no fascinante mundo dos vinhos, em especial aos do Alentejo, essa região ícone dos vinhos portugueses.

Mais informações nos sites:  www.vinhosdoalentejo.pt e www.vinhosdoalentejo.com.br e no Instagram: @vinhosdoal