A 11ª edição do Encontro Mistral apresentou mais de 500 rótulos de 70 vinícolas de 13 países em São Paulo e no Rio de Janeiro
Com ingressos esgotados, a Mistral Importadora trouxe ao Brasil 70 produtores de vinho de 13 países para o Encontro Mistral 2025, que aconteceu nos dias 04, 05 e 06 de agosto, em São Paulo, no hotel Grand Hyatt, e no dia 07 de agosto, no Belmond Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Essa foi a 11ª do evento que se consolida como um dos mais importantes do mundo do vinho no Brasil.
O Encontro Mistral é uma oportunidade para enófilos e amantes do vinho degustarem alguns dos melhores e mais premiados vinhos produzidos nas principais regiões vitivinícolas do Velho e Novo Mundo. Cerca de 500 rótulos estiveram disponíveis no evento, que foram servidos ao público pessoalmente pelos próprios produtores. O Portal Mesa de Bar foi convidado a participar do evento e ficou encantado com a organização e o nível dos rótulos oferecidos e traz aqui um pouco do que viu e provou.


Os vinhos franceses, mais uma vez, se destacaram no contexto geral. Começamos com o Faiveley Ladoix Les Marnes Blanches 2022, um vinho branco incrível, fresco, com aromas de frutas cítricas e flores brancas e um final com notas de amêndoas e um toque de salinidade. E passamos para outro vinho espetacular, o Meursault também da Faiveley, um dos brancos mais conceituados da Borgonha. O show continuou com três Chablis sublimes da Domaine Billaud-Simon: o Premier Cru Fourchaume 2022, o Grand Cru Les Clos 2022 e o Tete d’Or 2021, com aquela leveza elegante, aroma de flores brancas, notas cítricas e amendoadas e mineralidade característicos.
Na rodada francesa dos tintos, voltamos para a Faiveley e começamos muito bem com o Nuits-Saint-Georges Les Montrozier Faiveley, um pinot noir elegante, potente e bastante complexo, tanto que é um vinho de guarda. Passamos para o Corton Clos des Cortons Monopole 2022 um vinho espetacular, um dos melhores grands crus da Borgonha. E para o grand finale degustamos o esplêndido Gevrey-Chambertin Premier Cru Les Cazetiers 2020, um vinho de vinhas de mais de 70 anos, complexo, macio, com alto potencial de guarda que exprime toda a qualidade dos vinhos da Borgonha.





Seguimos a degustação e demos uma guinada para a Espanha. Provamos ótimos rótulos da Telmo Rodríguez. Começamos com o Basa Rueda 2023, um ótimo vinho branco 90% verdejo, bem aromático, muito fácil de beber. Depois foi a vez do Gaba do Xil 2023 da uva branca godello que é bem conceituada na Espanha e agradou bastante. Passamos para os tintos. Provamos o Pegaso Barrancos de Pizarra 2020, um ótimo 100% garnacha, e finalizamos com o Remelluri Reserva 2015, de tempranillo (80%), garnacha (9%) e graciano (11%) e a versão Gran reserva 2016, que leva mais garnacha (58%), que ficou excepcional. Uma seleção belíssima do melhor de La Rioja.









Experiências
Não resistimos à tentação de uma degustação vertical dos excelentes vinhos Château Kirwan de Margaux, na França, que combina as uvas cabernet sauvignon, merlot, cabernet franc e petit verdot. Impressiona mesmo sentir as sutilezas das diferentes safras. As que mais nos agradaram foram as safras 2018 e 2021.
Outra experiência incrível foi degustar vinhos brancos alemães da Selbach-Oster de uvas riesling plantadas em diferentes parcelas nas encostas do Vale do rio Mosel, que vão desde os mais secos até os mais doces. Começamos pelo Riesling Trocken 2019, passamos pelo Mosel Incline QbA 2022 (da parte mais inclinada e alta da encosta), e finalizamos com o Zeltinger Sonnenuhr Spätlese Feinherb “Ur” Alte Reben 2021. São vinhos excelentes, frescos, delicados, muito aromáticos, com notas cítricas, um leve pêssego e um toque de salinidade e mineralidade.
Voltamos para a França. Da região do Rhone provamos da renomada Famille Perrin o Châteauneuf-du-Pape Les Sinards Rouge 2021. Um blend de grenache, mourvèdre e syrah maturado por 24 meses em barricas de carvalho. Um vinho elegante, sedoso, encorpado, com aqueles toques de especiarias. E deliramos ao provar o Châteauneuf-du-Pape Château de Beaucastel Rouge 2020, considerado um dos melhores vinhos franceses e para muitos o melhor do mundo.








Retomamos para a Alemanha para provarmos um belo riesling da Weingut Robert Weil o grande nome da viticultura da região de Rheingau. Um vinho clássico, meio-seco e frutado, floral e mineral, mas com o frescor dos vinhos alemães. Experimentamos da vinícola também o ótimo Kiedrich Gräfenberg Riesling Trocken GG 2022, considerado a joia da coroa… com justiça.
Guinada para a Itália para provar um supertoscano espetacular: o Flaccianello della Pieve. Um sangiovese com 24 meses em barricas de carvalho francês da icônica vinícola Fontodi que pode ostentar o título de melhor chianti clássico do mundo. Um raro prazer já que são produzidas apenas 4 mil caixas dele para o mundo todo…
Vinho com história
Aí vai uma boa história associada ao próximo vinho espanhol que degustamos: o El Reventón Nº 17. Este vinho nasceu após um acidente que resultou na perda de 5.000 litros de mosto na vinícola espanhola Bodegas El Reventón, do argentino Alejandro Vigil, um dos mais talentosos enólogos da atualidade, famoso pelos vinhos El Enemigo, mas de Mendoza. Daí um produtor vizinho, o jovem enólogo Juan Andrés Martín Pérez, quando soube ofereceu parte de suas uvas garnacha de vinhedos antigos das regiões de El Sotillo e El Vallejón, para que os dois criassem uma edição especial. Ou seja, o Nº 17 é resultado de uma colaboração de um “inimigo” com um “amigo”. Um vinho leve e fácil de beber, com uma bela história.
Da mesma vinícola espanhola Bodegas El Reventón, provamos o La Reina 2022 um garnacha orgânico do terroir da Sierra de Gredos, sem passagem em madeira, aromático, fresco e bem frutado, com um toque mineral. E conferimos duas outras excelentes produções de Alejandro Vigil. A primeira foi o El Enemigo Bonarda El Barranco 2021, mas de Mendoza. Um vinho que mostra que a bonarda argentina tem sim seu valor. E o espetacular As Bravas, um incrível projeto de Alejandro e Adrianna Catena que celebra a força das mulheres. Um malbec elegante, aromático, de muito frescor, com sabor de frutas vermelhas maduras e um toque mineral.








Hora de um belíssimo chardonnay. O Monteriolo, da renomada vinícola Coppo, no Piemonte, é referência desta casta na Itália, considerado dos melhores vinhos brancos do país pela sua complexidade, frescor e textura sedosa e um leve amadeirado, fruto de nove meses maturando em barricas de carvalho francês. E da mesma vinícola provamos um Barolo, elaborado com uvas nebbiolo colhidas de diversos “crus” de Barolo, principalmente de Castiglione Falletto e Monforte, e maturado por 36 meses em barricas de carvalho. Um vinho clássico, elegante e que faz jus à fama dos Barolos no mundo dos vinhos.
Da mesma Coppo provamos mais dois. O Pomorosso Nizza 2018 é considerado um dos melhores tintos italianos e dos Barbera d´Asti, responsável por elevar essa casta a um nobre patamar por sua complexidade, elegância e versatilidade. E o Bric del Marchese Nizza 2018 outro ótimo barbera bem frutado, encorpado e persistente, envelhecido por 14 meses em barricas de carvalho. Belíssimos vinhos! Ainda pela Itália provamos o Sameto 2020, da Masseria Samia (San Marzano), na Puglia. Ele é um cabernet sauvignon maturado por 12 meses em barricas de carvalho francês e mais 12 meses em garrafa. Um excelente vinho, complexo, redondo.
Continuamos na Itália, mas agora passamos para a região de Trentino, onde fica a renomada vinícola Tenuta San Leonardo para provar quatro de seus vinhos. O Vette di San Leonardo Sauvignon Blanc impressionou já nesta safra de estreia de 2023 por seu frescor e mineralidade marcantes. O Terre é um blend de cabernet sauvignon, merlot e carmenère. Um tinto elegante, frutado e que tem um bom custo/benefício. Seguimos com o Villa Gresti feito de merlot (90%) e carmenere (10%), com passagem de 12 meses em barricas novas de carvalho francês que dão a ele um sensorial de frutas silvestres e toques de amadeirado e mineralidade. E finalizamos com o San Leonardo, um blend selecionadíssimo de cabernet sauvignon, carmenère e merlot. Um tinto elegante, complexo e que certamente está entre os grandes vinhos italianos.








Boas descobertas
Guinada para o Uruguai, que cada vez mais tem apresentando grandes vinhos. Experimentamos o Pisano Arretxea 2015, um dos mais prestigiados vinhos uruguaios, produzido na região de Canelones, próxima à capital, Montevidéu. Ele é um fiel representante da uva tannat, mas leva uma pequena porcentagem (3%) de petit verdot apenas para dar um toque final. Um vinho aromático, complexo, encorpado, levemente amadeirado e muito agradável. Por falar em vinhos com essas qualidades, destaque para o espanhol Viña Bujanda Gran Reserva 2014, um 100% tempranillo produzido na região de La Rioja, maturado 24 meses em barricas de carvalho francês e americano, seguido de três anos em garrafa. Que dupla!
Outro bom Uruguaio que provamos, também de Canelones, mas da Viña Progresso, foi o Overground Sangiovese 2019. Esta uva é uma boa surpresa por lá, mas é o resultado do trabalho desta vinícola que prefere cultivar uvas diferentes em pequenas parcelas para fazer tiragens limitadas. Este ainda estagia por sete meses em barricas de carvalho francês e americano de segundo uso. Da mesma vinícola provamos mais dois rótulos. O Old Vines Tannat 2016 que, como o nome já diz, é elaborado de uvas tannat de vinhedos de mais de 50 anos, com 12 meses de envelhecimento em barricas de carvalho francês, que dá a ele mais complexidade e personalidade. E por fim o Sueños de Elisa Open Barrel é um tannat que foi fermentado em barricas de carvalho francês abertas que dá a ele um sabor de frutas vermelhas com toques de cogumelo e amadeirado. A produção é de apenas 186 garrafas. Vale a pena conhecer essa linha uruguaia.








Fomos conhecer vinhos de outro país em outro continente. A África do Sul surpreende com seus vinhos e experimentamos três ótimos exemplares da vinícola De Wetshof, da região de Robertson Valley, considerada a maior especialista em chardonnay do país. Começamos com o Bon Vallon Chardonnay 2022 e realmente constatamos que ele faz jus a fama. Um vinho fino, fresco, leve, elegante. A uva pinotage é um ícone da produção do país. Daí resolvemos experimentar o Danie de Wet Pinotage 2023. Mas o que chamou a atenção foi o Danie de Wet Pinot Noir, com oito meses de maturação em barricas de carvalho francês. Um vinho frutado, aveludado e elegante com notas de nozes.
Com saudades da Itália, voltamos para experimentar um ícone da Toscana: o Sassoalloro. Este mais ainda porque é o Sassoalloro Oro, lançado para celebrar os 30 anos de sua produção, que foi elaborado apenas com uvas de uma seleção das vinhas mais antigas do Castelo di Montepò pelo produtor Jacopo Biondi Santi. Um belíssimo sangiovese grosso, com 16 meses de maturação em barricas de carvalho francês. Passamos para o Villa di Capezzana 10 Anni Carmignano 2013, da vinícola Tenuta Capezzana, também da Toscana. Este é um vinho clássico das melhores parcelas de sangiovese e cabernet sauvignon que ao celebrar “10 anos” a família quis mostrar a sua evolução para um perfil mais macio e fresco e produziu apenas 3.000 garrafas, deixando-as envelhecer na adega e só as colocando no mercado dez anos após a colheita. E para finalizar degustamos uma curiosidade: o Vin Santo di Carmignano Riserva 2015. É um clássico exemplar de vinho Santo, branco, bem doce, que maturou por quatro anos em barricas de carvalho.





Antes de deixar a Itália ainda deu tempo para provar o Cadetto 2022, produzido pelo grande nome da Umbria, Lungarotti, com predomínio da uva sangiovese sem passagem por barricas de carvalho. Um vinho fresco, muito agradável e de bom custo/benefício. Daí demos uma guinada radical para um ótimo espanhol: o ÀN Ànima Negra 2017, da região de Mallorca, um dos vinhos mais cultuados da Espanha elaborado com a casta autóctone callet, encorpado e envelhecido por 18 meses em barricas de carvalho francês que deu a ele uma personalidade própria elegante e bem interessante.
Encontrando amigos
Falando em personalidade própria, no evento encontramos duas figuras únicas. A primeira foi Luis Pato, uma lenda em Portugal e produtor de maior prestígio na região da Bairrada, e depois ninguém menos que Alejandro Vigil, o enólogo da Catena Zapata que simplesmente revolucionou a produção de vinhos na Argentina e tem um pezinho na Espanha, como já dissemos antes. Os dois sempre estão de ótimo humor, oferecendo seus vinhos, conversando com os presentes e tirando fotos. Entramos na vibe…
Antes de ir, Alejandro nos serviu um Catena Zapata Nicasia 2021 elaborado com uvas de uma parcela especial plantada em 1997 em La Consulta. Um vinho exuberante, potente e muito complexo, com 21 meses maturando em barricas de carvalho francês, mostrando como um Malbec deve ser. E depois um Nicolás Catena Zapata 2021, um dos ícones da Argentina, um blend refinado de 46% cabernet sauvignon, 44% malbec e 10% cabernet franc com a assinatura da família Catena, sinônimo de excelência na enologia e na viticultura sul-americana. Gracias!







E para finalizar nosso tour pelo evento, degustamos três excelentes conhaques franceses da Delamain, uma das mais antigas e prestigiadas casas da região de Grande Champagne. O Cognac Delamain Pale & Dry XO é um ícone. Embora o período mínimo de maturação para um Cognac XO seja de 10 anos em barricas de carvalho, no caso dele, o envelhecimento se deu por várias décadas em antigos “foudres” de carvalho nas adegas seculares às margens do rio Charente, entre Vinade e Jarnac, no coração da região de Cognac. Ele tem um equilíbrio perfeito entre a intensidade e a doçura, de perfil delicado e refinado com um sensorial de baunilha e frutas secas intenso, com um leve toque de especiarias.
Agora a versão do Cognac Delamain XO segue pelo mesmo caminho. Ele é apenas mais suave com um teor alcóolico de 40% contra 46% do Pale & Dry XO. Para muitos, ele é tudo de bom e mais elegante e macio. E o grand finale ficou para o Cognac Delamain XXO, um conhaque absolutamente espetacular, que evoluiu tranquilamente ao longo das décadas evidenciando todas as suas nuances sensoriais. Uma verdadeira joia líquida!
Terminamos assim o nosso tour pelo Encontro Mistral 2025 com a certeza de que é um dos melhores eventos do segmento de vinhos do Brasil, pois revela uma amostra significativa do que de melhor se produz de vinhos no mundo. É evidente que não pudemos provar todos os ótimos rótulos oferecidos, mas esperamos ter dado a você um pouco da ótima seleção que degustamos.
Menção honrosa também para o hotel Grand Hyatt São Paulo, que disponibilizou ilhas com muita fartura de pães recheados, frios, queijos, frutas, doces e até comida japonesa para ótimas paradas para reabastecer nos intervalos. E também para a equipe da organização que fez tudo caminhar perfeitamente. Parabéns a todos os envolvidos! Nos vemos em 2027! Mais informações no site: www.mistral.com.br/encontro.
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