Hugo Corales, diretor do ProChile no Brasil, revela como estão os negócios de vinhos entre os dois países e as boas perspectivas para o futuro

O ProChile é uma instituição do Ministério das Relações Exteriores do Chile responsável por promover as exportações de produtos e serviços chilenos, além de incentivar investimentos estrangeiros e promover o turismo. Em outras palavras, é o braço comercial do governo chileno que visa facilitar o comércio internacional do Chile com os demais países, principalmente o Brasil. Isto porque nos tornamos um dos principais mercados para os produtos chilenos, notadamente os vinhos, que somos o seu maior importador.

Hugo Corales é diretor do ProChile no Brasil e nesse bate-papo exclusivo com o Portal Mesa de Bar ele revela como estão os negócios entre os dois países e fala das perspectivas otimistas para um futuro próximo.

Como você enxerga o mercado atual de vinhos no Brasil e a participação chilena nesse mercado?
A título de contexto, gostaria de destacar que a assinatura do Memorando de Entendimento sobre a Cooperação Econômica e Comercial entre os dois países, em 2018, marcou um ponto de inflexão para as exportações chilenas. Naquele ano, os embarques chilenos para o Brasil somaram apenas US$ 1,985 bilhão, enquanto em 2024 esse valor chegou a US$ 5,066 bilhões, um crescimento médio anual de 10,2% entre 2019 e 2024, refletindo o impacto positivo desse quadro de cooperação e o fortalecimento do comércio entre os dois países. No caso do vinho, junto com salmão, truta e maçãs frescas, este produto é um dos três principais embarques do Chile para o Brasil. Em 2019, por exemplo, as exportações de vinho tinto engarrafado e blends totalizaram US$ 65 milhões, enquanto em 2024 esses mesmos embarques totalizaram US$ 89 milhões, 36,6% a mais que em 2023 (US$ 65 milhões). Os dados concretos indicam que, em 2024, o Brasil foi o principal destino das exportações de vinho chileno, totalizando US$ 203 milhões, representando 12,82% de todos os embarques da categoria e um aumento de 17,8% em relação a 2023.

Que tipos de vinho o Chile está mais comercializando para o Brasil?
Os três principais embarques de vinho engarrafado do Chile para o Brasil são blends de vinho tinto (US$ 89 milhões, +36,8%); Vinho tinto Cabernet Sauvignon (US$ 25 milhões, -17,3%) e vinho branco Riesling, Pinot Blanc, Blends e outros (US$ 18 milhões e +52,7%).

Quais são as tendências do vinho chileno para o mercado brasileiro e mundial?
Atualmente, o Chile é o quarto maior exportador de vinho do mundo, depois de países europeus como Itália, França e Espanha. A parceria público-privada entre a ProChile e a Wines of Chile, marca do setor dedicada a esse setor, busca consolidar essa posição por meio do crescimento em mercados como o Brasil. O consumo per capita do brasileiro é estimado em 2,3 litros por ano, o que significa que ainda há muito espaço para crescimento, e os esforços promocionais que realizamos aqui no mercado local visam atingir essa meta. Somos países próximos. Há muito tráfego turístico do Chile para o Brasil e do Brasil para o Chile, o que significa que há entendimento mútuo, afinidade e, acima de tudo, uma estrutura regulatória robusta que permite o crescimento contínuo, especialmente em estados além de São Paulo e Rio de Janeiro. Outro foco tem a ver com a introdução de novas cepas e produtos mais inovadores. Nesse sentido, os embarques de vinho branco engarrafado (Riesling, Pinot Blanc, blends e outros) se destacam como um dos produtos mais promissores, com uma oportunidade de US$ 170 milhões, refletindo a crescente demanda do mercado brasileiro por produtos diferentes, inovadores e mais premium.

O Chile também tem se destacado pelo enoturismo. Qual é a sua visão sobre o potencial desse destino para os brasileiros?
De acordo com os últimos dados publicados pela Divisão de Estudos da Subsecretaria de Turismo, por meio do Departamento de Estatística do Serviço Nacional de Turismo, entre janeiro e março de 2025, 2.031.214 turistas estrangeiros entraram em nosso país. O Brasil ocupa o terceiro lugar em chegadas de turistas (depois da Argentina e da Bolívia, países vizinhos), com 111.930 turistas entrando no país, o que representa 5,5% do total. Em 2024, os turistas do Brasil chegaram a um total de 787.036 visitantes, o que representa um aumento de 62% em relação a 2023 e de 45,2% em relação a 2019 (números pré-pandemia). Os meses mais movimentados de 2024 foram julho e agosto — a temporada de inverno no Chile — com 142.782 e 122.578 chegadas, respectivamente. Embora a estadia média dos turistas brasileiros seja de 7,4 noites — considerada relativamente baixa — seus gastos individuais diários chegam a US$ 103,3, a maior taxa entre todos os mercados, posicionando os turistas brasileiros como a principal fonte de renda em moeda estrangeira para o Chile. Em 2023, o turismo brasileiro gerou uma receita de US$ 373 milhões, e a expectativa é que esse valor aumente para US$ 604 milhões em 2024, o que representa um aumento de 62%. Esses números significam que cada vez que um brasileiro visita nosso país, ele aprende mais sobre nossos produtos e os sabores que nós, chilenos, preferimos, e assim os incorpora ao seu dia a dia até que depois os procure em seu próprio país. Um exemplo disso é o que acontece com o pisco e os vinhos chilenos, que são apresentados como um complemento ideal para as ofertas de peixes e frutos do mar do Chile.

O turismo entre os dois países fez parte da pauta da recente viagem do presidente Gabriel Boric ao Brasil. De fato, a Subsecretária Verónica Pardo participou ativamente do Fórum Chile-Brasil, organizado pela Confederação Nacional da Indústria; na Mesa Redonda sobre o Corredor Bioceânico e também manteve encontro bilateral com a Ministra de Estado do Turismo (S) do Brasil, Ana Carla Lopes. Da mesma forma, como parte do calendário de atividades do setor, as empresas de turismo chilenas participarão, por meio do Serviço Nacional de Turismo, de 30 feiras, exposições, workshops e cúpulas nacionais e internacionais. No caso do Brasil, em abril passado, estivemos com 40 expositores na WTM Latam, que aconteceu em São Paulo; no Adventure Elevate Latin America, no Mato Grosso do Sul, e no Brazil Workshop do primeiro semestre, também em São Paulo. Essa mesma atividade acontecerá em outubro, na cidade de Curitiba.Mais especificamente, a ProChile e a Enoturismo Chile estão organizando uma Rota de Enoturismo Chile-Brasil pelo terceiro ano consecutivo, com o objetivo de fortalecer a posição do nosso país como destino de enoturismo entre os visitantes brasileiros. As datas ainda serão definidas, entre agosto e novembro, assim como os detalhes do roteiro em si, mas, no fim das contas, é um convite a um grupo de operadoras de turismo brasileiras para visitar os principais vales da região central do país. No ano passado, por exemplo, eles visitaram alguns vinhedos no Vale do Maipo e Colchagua. A agenda da Rota do Enoturismo Chile-Brasil inclui não apenas visitas técnicas e experiências imersivas, mas também encontros de negócios entre operadoras de turismo dos dois países.

O ProChile tem planos para formentar o consumo de vinhos chilenos no mercado brasileiro? O que podemos esperar para breve?
A participação em feiras internacionais é nossa principal atividade promocional em mercados internacionais, e o Brasil não é exceção a essa estratégia. Este ano estivemos na Wines South America, em Bento Gonçalves, e também na APAS SHOW, em São Paulo, ao lado de diversas vinícolas nacionais. Além dessas iniciativas, também oferecemos outras atividades, como missões comerciais específicas e o suporte contínuo que oferecemos como escritório de vendas para vinícolas que buscam entrar no mercado ou aprender mais sobre questões legais e tributárias. Também em uma tarefa que se tornou habitual toda vez que o navio-escola da Marinha do Chile, La Esmeralda, chega ao Brasil aproveitamos a presença nos portos locais para realizar eventos de networking e promoção a bordo, reunindo outros produtos da nossa oferta, como o salmão.

Que mensagem você deixaria para quem comercializa os vinhos chilenos e para os consumidores brasileiros?
O Brasil é um grande mercado. Da oferta chilena, eu diria que ainda há muito espaço para crescer por meio de novos produtos, mais rótulos premium e outros formatos, ousando abrir novos estados, alcançando mais cidades, sempre alavancando a demanda, e falando com os consumidores brasileiros, incentivando-os a romper com o tradicional e explorar outras variedades. Nossa oferta é tão ampla que é possível encontrar um bom vinho para as mais diversas ocasiões, desde um coquetel ao pôr do sol em um terraço à beira-mar até um jantar mais formal com carnes assadas, outro ponto forte da culinária local. Acredito que temos capacidade para responder às mais diversas exigências, satisfazer os paladares mais exigentes e ir mais do que ao encontro das expectativas que rodeiam a nossa oferta. Ainda há muito para descobrir e aprender.