A Cervejaria Rio Preto é um exemplo do presente e do futuro poderoso das artesanais no Brasil

Imagine você em uma típica cidade do interior, com no máximo cinco mil habitantes, onde a vida anda devagar, mas que tem um pouquinho de tudo: um pequeno centro comercial, uma padaria bacana, bancos, rodoviária, pracinha, igreja, clube, hotel, restaurantes, bares e… uma cervejaria!

Na divisa do estado do Rio de Janeiro com Minas Gerais fica Rio Preto, uma cidade exatamente como descrito acima. É lá também que encontramos a Cervejaria Rio Preto, que o Portal Mesa de Bar teve o prazer de conhecer. Isto porque ela é um exemplo da fantástica capilarização das cervejas artesanais no Brasil, mesmo nesses tempos obscuros.

Segundo dados de 2020 do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) o Brasil já superou as 1.300 cervejarias que produzem mais de 15 mil rótulos oficialmente registrados. Fora as que ainda estão operando na informalidade. Ou seja, uma cervejaria na pacata Rio Preto não é loucura nem surpresa. Ela é uma excelente alternativa de negócios para cidades interioranas, pois oferecem um ótimo produto, acessível e com um apelo muito mais interessante do que as cervejas de alto consumo. E ainda oferecem a facilidade da entrega imediata, preço justo e atendimento amistoso.

No Caso da Cervejaria Rio Preto, ela começou até há um certo tempo, quando um jovem empreendedor da cidade que fazia cerveja informalmente desde 2014 chegou em um ponto que reuniu o pai e a irmã, levantou um montante, adquiriu um galpão, os equipamentos e, em 2016, inaugurou a cervejaria e fez a roda girar.

“Investimos R$ 500 mil no total. Tudo é nosso, inclusive montamos uma estação de tratamento de água para nos abastecer. Trabalhamos com malte importado e oferecemos sete estilos em linha e de vez em quando soltamos uma sazonal. É um mercado pequeno, mas quem prova nossas cervejas vira cliente fiel”
Matheus Rocha, sócio e cervejeiro da Cervejaria Rio Preto

A região onde fica a cidade é privilegiada pela beleza da Serra da Mantiqueira, cortada pelo Rio Preto, que nasce no Parque Nacional de Itatiaia, desce lá de Mauá (RJ) e vai serpenteando pela serra, demarcando a divisa entre os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, e deságua no rio Paraibuna, um afluente do rio Paraíba do Sul. Apesar do potencial turístico, é uma região fraca economicamente, uma vez que não há indústrias, nem agricultura e pecuária de peso por ser uma região montanhosa. Então o modelo de negócios é para ser reduzido mesmo, atendendo a cidade e as demais num raio de 100 Km. Inclui-se aí até algumas mais poderosas, como Valença (RJ), Barra do Piraí (RJ), Três Rios (RJ) e até Juiz de Fora (MG).

“A gente acabou entrando em uma dinâmica de produzir conforme a demanda. Em média, são de 4 a 5 mil litros mês. Mas estamos em uma pandemia. Tenho certeza de que vamos poder elevar essa média quando as coisas voltarem ao normal
Matheus Rocha, sócio e cervejeiro da Cervejaria Rio Preto

Quem vista a cervejaria não sai de lá com dúvidas de que ela é um sucesso. Ótimos equipamentos, panelas, tanques de fermentação, pasteurizador, engarrafadora, tudo limpo e impecável, pronto não só para ser como também para se tornar melhor. Em anexo, um barzinho ainda discreto, quase que um showroom, com quatro torneiras, geladeira com garrafas e mini lojinha.

E as cervejas? Claro que provamos a linha toda. A proposta da Rio Preto é fazer o básico bem-feito. A Pilsner é a cerveja de combate, bem leve, turva (não filtrada), com 5% de teor e 19 IBU. A Weissbier vai na mesma linha, com trigo bem presente e com aquela sensação de banana e cravo, com 4,5% de teor e 12 IBU. A ótima Red Ale aposta no malte meio-torrado, corpo médio/baixo e um leve adocicado no final sem comprometer, com 5,2% de teor e 26 IBU. Foi a preferida de um dos acompanhantes da visita e que assinamos embaixo.

Por falar nisso, gostaríamos de enaltecer as quatro últimas do portfólio. A Brown Ale, que provamos on tap, estava fresca, estupenda, com um equilíbrio perfeito entre o malte e os lúpulos, com 5,2% de teor e 21 IBU. A Stout veio com a mesma pegada de equilíbrio da anterior, sem apostar em um corpo mais pesado, quase que uma Dry Stout, com 5,5% de teor e 32 IBU.

Todas essas, sem invencionices, adjuntos mirabolantes e modismos. Agora, é de se espantar a inclusão no portfolio de uma IPA absolutamente diferente do usual. A cerveja abandonou a ênfase na citricidade do maracujá ou da grapefruit comuns ao estilo para apostar em um perfil herbal, por conta da escolha do lúpulo Cascade, que deu a ela 52 IBU em harmonia com um teor de 5,5%, baixo para uma IPA. O resultado ficou mais para uma Session IPA, porém bem interessante. E, finalmente, a surpreendente Tripel, uma cerveja de estilo belga bem saborosa, ouro, ácida, com ótimos 9% de teor e 38 IBU. Um rótulo absolutamente incomum no portfólio de cervejarias de pequeno porte. Uma demonstração de que eles querem que seus consumidores experimentem outros estilos, outras escolas e sigam nessa viagem sem volta pelo universo das artesanais.

O Portal Mesa de Bar se orgulha de ter estado na Cervejaria Rio Preto e visto com seus próprios olhos um exemplo do presente e do futuro poderoso das artesanais no Brasil. Inclusive, até do passado, pois ao fundo da cervejaria há um vitral com a figura de Ninkasi, a antiga deusa suméria da cerveja, abençoando seus pupilos. Parabéns Matheus e equipe da Rio Preto. Vida longa e próspera!

CERVEJARIA RIO PRETO
Endereço: Rua professor Vitorino Alvin, 844 – Novo Horizonte – Rio Preto (MG) – 36130-000
Tel.: (32) 3283-1056
Horário: De segunda a sexta, das 8h às 18h, sábados e domingos das 10h às 19h.
Face: cervejariariopreto