VODKA E GIN CATARINENSE SÃO ELEITOS OS MELHORES DO MUNDO

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Mauricio Kalvelage conta como a vodka e o gin dessa destilaria catarinense foram eleitos os melhores do mundo no maior concurso internacional de destilados

A destilaria catarinense Kalvelage, comandada pelos irmãos Maurício e Marcos Kalvelage, conquistou com a Vodka Vibe e o London Dry Gin da marca um duplo Double Gold, o prêmio máximo da 25ª edição do San Francisco World Spirits Competition, o mais antigo e maior concurso de destilados do mundo realizado nos Estados Unidos.

Para se ter uma ideia do feito, marcas de todos os países participam da premiação e são avaliadas por um júri formado por profissionais renomados do setor de bebidas de diferentes regiões. Eles participam de testes às cegas e saboreiam e avaliam criteriosamente uma por uma.

Depois, as bebidas que foram melhor avaliadas são contempladas com medalhas de ouro, prata e bronze. Quando uma bebida recebe medalha de ouro de todos os jurados da competição, ela recebe o prêmio máximo do concurso, que é o Double Gold, ou ouro duplo. Esse ano, a Kalvelage foi contemplada com ouro duplo em dois produtos diferentes, a vodka Vibe e o London Dry Gin. E com o agravante de ter sido a única empresa brasileira contemplada com o prêmio máximo do concurso. Agora, a destilaria acumula mais de 40 medalhas internacionais.                                       

A vodka e o gin

A Vodka Kalvelage Vibe se destaca como uma vodka de cereais premium produzida no Brasil com ingredientes brasileiros. Sua suavidade e seu equilíbrio se destacam, sendo uma bebida versátil. Ela já conquistou mais de 14 prêmios internacionais desde que foi lançada em 2013. A marca lançou uma edição especial em garrafa mais sofisticada e uma nova versão da mesma vodka com extrato de carvalho, que também surpreende os apreciadores.

Já o Kalvelage London Dry Gin combina oito ervas aromáticas, com a riqueza de sabores brasileiros. A receita é composta por zimbro, coentro, cardamomo, casca de laranja, rosas, melissa, cidrão e angélica. Ele foi um dos primeiros a surgir no Brasil na categoria de gins premium, se diferenciando por sua qualidade e experiência sensorial. Atualmente, possui oito medalhas em competições internacionais, incluindo quatro medalhas de ouro no San Francisco World Spirits Competition. O gin também pode vir em dois formatos de garrafas, um tradicional e um outro vintage, bem interessante.                               

Com esses dois prêmios Double Gold conquistados na 25ª edição do SFWSC, a Kalvelage conseguiu um feito inédito para uma marca brasileira de destilados. O Portal Mesa de Bar conversou com exclusividade com Maurício Kalvelage para falar um pouco da história da marca e dessa grande conquista internacional.

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Quando vocês decidiram montar a destilaria, em 2012, sair de uma produção caseira para uma profissional, foi preciso investimento e coragem de empreender. Conta essa história?
Eu e meu irmão sempre fomos apaixonados por destilados. Nós trabalhávamos com mármore e granito e sonhávamos em ter a nossa destilaria na aposentadoria. Toda vez que viajávamos nós experimentávamos melhores destilados de cada país que a gente ia. Em 2002 decidimos comprar um pequeno alambique e começar a ter uma produção caseira. Daí, de 2002 até 2008, fomos melhorando a ponto dos amigos e pessoas que provavam nossos destilados ficarem encantados pedindo sempre mais. Em meados de 2008, decidimos que era a hora de tornar o hobby um negócio. Tínhamos 40 não 70 anos! Foi ousado. Por isso, montamos um plano de negócios muito bem estruturado a fim de que nós tivéssemos uma primeira vodka comercial com padrão de qualidade similar ou melhor do que as melhores que nós tínhamos provado. Desde o início, qualidade é uma obsessão da Kalvelage.

Como foi decidir que receita fazer e de usar apenas ingredientes nacionais?
Não é fácil chegar a uma receita final de um destilado de qualidade superior usando apenas ingredientes nacionais. São necessários muitos testes, muitas destilações, muitas provas, até você encontrar um produto final que corresponde às suas expectativas e que tem a qualidade que você espera. Foi uma busca intensa. Foi preciso encontrar o fornecedor certo para cada insumo que pudesse oferecer um produto de alta qualidade. Chega ao ponto de nos certificarmos até que o PH da água que o fornecedor usa no seu processo produtivo é controlado. Entendemos que a qualidade não pode estar apenas no final, ela tem que estar presente em todo o processo. Também realizamos um controle de qualidade interno muito rigoroso para que a gente possa oferecer sempre o mesmo padrão. Outro desafio constante é monitorar o preço de mercado para poder viabilizar o nosso produto para o consumidor sem que a gente abra mão da qualidade. É necessário pensar nessa equação do preço porque não adianta ter um produto de qualidade superior e não ter um preço competitivo. Hoje em dia as margens de lucro são muito baixas, tudo é muito ajustado. Para você ter uma ideia, o preço da garrafa é muito impactante no custo, os impostos são muito impactantes no custo… A conta tem que fechar para o seu produto ser viável para o mercado. O dono do bar ou do restaurante também pensa assim. Ele quer um produto de qualidade e pagar pouco, então a gente precisa equacionar o nosso produto com as necessidades do mercado. Há bares que trabalham com destilados de qualidade média ou baixa, mas na minha visão essa economia não vale a pena. A competição está forte, então você precisa encantar o seu cliente para ele querer voltar de novo ao seu estabelecimento.

A sua vodka faturou o primeiro prêmio internacional em 2013. Isso alavancou os negócios? De lá para cá foram vários prêmios internacionais. Isso faz diferença tanto aqui quanto no exterior?
O produto nacional está quebrando um tabu no mercado internacional. Nós estamos entre os melhores destilados produzidos no mundo. Competimos no principal concurso de destilados mundial, que é o São Francisco Spirit, com produtos de qualidade do mundo inteiro e batemos todos eles. Fomos Double Gold em vodka e gin. Ou seja, para se faturar um Double Gold todos os juízes tem de dar medalha de ouro para o seu produto. Às vezes eu acho isso surreal, mas nós chegamos lá e vencemos. Os prêmios dão uma visibilidade enorme não só para o mercado internacional, mas para o mercado nacional. É uma forma de confirmar o que nós estamos vendendo, ou seja, qualidade. Nós focamos muito o nosso negócio no mercado brasileiro, mas é óbvio que um prêmio internacional também chama a atenção de compradores internacionais, inclusive acabamos de mandar o nosso primeiro container para os Estados Unidos, o que foi também uma conquista fenomenal da destilaria entrar no mercado americano, que é um mercado disputadíssimo e nós chegamos lá. É óbvio que para o consumidor estrangeiro o destilado do Brasil é uma coisa “exótica”, mas depois que eles experimentam, descobrem que estão provando um produto de qualidade superior. Não é só um apelo de marketing. E conseguimos entrar no mercado americano com preços competitivos e isso é fundamental para ter sucesso no mercado tão disputado como o americano. A premiação do São Francisco Spirit permite colocarmos um selo na garrafa e o americano ao ver que foi premiado no concurso confia no produto.

O Brasil experimentou nos últimos 10 anos uma explosão de consumo do gin. Vocês decidiram fazer também este destilado, mas parece que o gin continua fazendo sucesso enquanto que a vodka deu uma diminuída de consumo. É isso mesmo que está acontecendo?
Nós testamos muitas receitas de gin antes de colocarmos o nosso no mercado. Ele seguiu o mesmo padrão de qualidade que exigimos. Com a explosão do consumo, muita gente lançou uma marca, mas nós não queríamos ser mais uma. Tanto que hoje em dia o consumo de gin no Brasil está caindo. Há muita marca de gin no mercado, tanto nacional quanto internacional. O nosso está muito bem posicionado. E agora deve crescer mais ainda com um prêmio Double Gold. Já o consumo da vodka começou a crescer novamente. Falta pouco para empatar com o gin. E nós oferecemos um excelente produto também Double Gold. Por outro lado, aumentou o consumo de whisky para drinks. E não à toa nós também oferecemos um whisky, não um puro malte, mas um blended de excelente de qualidade e ótimo para a composição de drinks. E mais uma vez fomos buscar os melhores fornecedores nacionais para fazer o nosso whisky e confesso que ele está num patamar excelente.

Notamos que muitas empresas estão diversificando seu portfólio, lançando destilados saborizados e versões ready to drink. A Kalvelage pensa em fazer o mesmo?
Hoje nós não pensamos nisso. Achamos que é o momento de focar nos nossos destilados mesmo e ficar cada vez mais próximo da coquetelaria. Nossos destilados são de qualidade e a coquetelaria está apostando nisso atualmente. A coquetelaria tem ganhado muita força, principalmente nos bares das capitais. Isso é bom para o destilado nacional de qualidade superior.

Com o atual cenário econômico do país, dólar alto e impostos em cascata, como projetar um crescimento das vendas no mercado interno?
Estamos fortes no mercado de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. Estamos com um projeto de melhorar a nossa participação no mercado de São Paulo porque é o que mais nos interessa em função do crescimento da coquetelaria não só na capital, mas em grandes cidades do estado.

E o mercado externo? Apesar dos prêmios, com o sobe e desce das tarifas de importação, como você enxerga o mercado de destilados brasileiros nesse contexto e o qual será a estratégia da Kalvelage para um futuro próximo?
Não desprezaremos o mercado externo. Tanto que eu não vejo problema com essas políticas tarifárias do Trump, por exemplo. Se a operação for bem planejada dá tudo certo. Nos Estados Unidos, estamos com nossos produtos em Chicago com muito sucesso e provavelmente vamos expandir nosso mercado a partir de lá. Mas nosso foco no momento é o mercado interno. Queremos ser reconhecidos como uma marca de qualidade e conquistar cada vez mais espaços junto a coquetelaria e ao consumidor de bebidas premium. Na nossa primeira garrafa tem uma frase: “Feito por quem bebe para quem bebe”, ou seja, nós prezamos a qualidade então nós queremos oferecer para os nossos consumidores a melhor qualidade possível. Tanto que quando ganhamos o prêmio Double Gold em São Francisco ficamos arrepiados. É uma conquista incomensurável! É a realização de um sonho! É o reconhecimento por um trabalho bem realizado. Sentimos muito orgulho não só pelo nosso destilado, mas por ser um destilado brasileiro, que superou marcas internacionais de prestígio e que está aí para brigar com as melhores nas prateleiras. E tenho certeza que vamos conseguir melhorar a cada dia.

Mais informações no site: www.kalvelage.com.br e no Instagram: @kalvelagedistillery

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